Repsol define Brasil como prioridade
JORNAL VALOR ECONOMICO - Cláudia Schüffner, do Rio 13/03/2009
Sócia da Petrobras e da BG nas áreas de Carioca e Guará, algumas das "joias" do pré-sal, a espanhola Repsol colocou o Brasil entre as regiões prioritárias no seu portfólio de exploração e produção. O país junta-se à África, Alasca e Golfo do México. "O Brasil é um dos polos estratégicos de crescimento da companhia", afirma Javier Moro, diretor da unidade de negócios de exploração e produção da Repsol no Brasil. "O país foi provavelmente um dos menos atingidos pela crise e tem um projeto de crescimento de longo prazo robusto e diferente da China."
Após 12 anos de atividade no Brasil, onde já investiu US$ 2,3 bilhões, a Repsol reduziu sua área de atuação, mas não os investimentos. A empresa tornou-se sócia da Petrobras na refinaria Alberto Pasqualini (Refap, com 30%) e no campo de Albacora (bacia de Campos) após troca de ativos na Argentina em 2000.
Em dezembro do ano passado a Repsol saiu do segmento de distribuição com a venda de 327 postos e toda a infraestrutura comercial e logística para a AleSat por US$ 55 milhões. A venda era esperada desde que a companhia anunciou a intenção de diminuir a participação relativa da América Latina nos negócios do grupo em todo o mundo. Em toda a região, a Repsol obteve US$ 310 milhões com a venda de ativos de distribuição no Chile, Equador e Brasil.
A petroleira espanhola também se desfez de sua participação na refinaria de Manguinhos (onde era sócia do grupo Peixoto de Castro), ficando apenas na Refap. Ainda assim é uma das estrangeiras mais atuantes no Brasil, onde tem participação em 24 concessões, sendo 19 blocos na bacia de Santos, e tornou-se a segunda maior produtora de petróleo com os 120 mil barris a que tem direito da produção de Albacora Leste, operado pela Petrobras e que foi recentemente unitizado com Albacora.
Se reduziu seu tamanho na distribuição e refino, a perspectiva de investimentos em exploração e produção de petróleo e gás é enorme. Os volumes tanto de petróleo quanto de investimentos ainda não podem ser medidos. O que é certo, segundo Moro, é que a empresa investirá no pré-sal sua parte dos US$ 100 milhões a US$ 150 milhões necessários para furar os poços Iguassu (já em andamento) e Abaré Oeste (previsto para abril), ainda este ano.
O executivo afirma que não é possível quantificar quanto a empresa vai investir este ano porque depende do resultado das novas perfurações no pré-sal. Se ele for bom, o custo de cada poço será maior, chegando aos US$ 150 milhões. Segundo Moro, somente em 2010 começarão a ser desembolsados investimentos mais pesados na área. Sobre as reservas da área, ele responde de forma bastante conservadora e cautelosa. Diz que não existe fundamento para as previsões dos bilhões de barris no pré-sal amplamente divulgados com informações que as empresas dispõem. "Até agora tivemos duas descobertas no pré-sal (Carioca e Guará) e para saber quantos barris de reservas têm cada área será necessário perfurar mais poços", explica Moro, frisando que essa é a informação oficial da Petrobras.
Até 2013 terão que ser perfurados mais dois poços em Guará, sendo um deles para conhecer melhor a formação geológica. Outros dois serão perfurados em Carioca para delimitar a área.
Ele repete o que vem sendo dito por todos os executivos da indústria, que aguarda a regulamentação sobre o tema que está sendo elaborada pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). O programa exploratório da Repsol para este ano inclui a perfuração de outros dois blocos onde ela é operadora. Estão programados dois poços no bloco BM-S-48 - também na bacia de Santos - sendo que no poço chamado "Panoramix" ela já encontrou indícios de óleo e está previsto um outro, chamado Vampira. Além desses, a Repsol prevê até 2010 mais dois poços no pré-sal das bacias do Espírito Santo e Campos. Eles receberam o nome de Malbec (BM-ES-29) e Seat (BM-C-33). A espanhola tem atualmente duas sondas de perfuração no país.
O tamanho da empresa no Brasil é um bom indicativo da aposta no país. Moro lembra que o segmento de exploração e produção é muito arriscado, não trabalha com fatos recorrentes e que esses riscos são maiores ainda no pré-sal, que segundo ele requer alto conhecimento e é muito caro. "O custo por barril pode variar entre US$ 10 e US$ 20 dependendo do tamanho do campo, e também há a variável de preço do petróleo. Mas estamos junto com a empresa que mais conhece o pré-sal em todo mundo", diz referindo-se à Petrobras.
Embora a direção da Repsol negue qualquer mudança na sua estrutura de comando no Brasil, já é de conhecimento do mercado que seu atual presidente, João Carlos França de Luca, está preparando sua saída da empresa. A Repsol diz apenas que ele continua no cargo.
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