Mercado aquecido para técnicos e executivos no setor de óleo e gás
Com investimentos bilionários e projetos de longo prazo, que em muitos casos chegam a 20 anos, o setor de óleo e gás, especialmente no Brasil, não se abalou com a crise e nem com as variações no preço do petróleo. De acordo com os especialistas ouvidos pelo Valor, o mercado continuará aquecido por muito tempo, o que faz crescer a carência de profissionais qualificados para cargos do alto escalão e de média gerência. Um problema que já considerado global na área.
Por se tratarem em sua grande maioria de multinacionais, as empresas acabam deslocando parte de sua força de trabalho conforme o necessário e é cada vez mais comum a "importação" e a "exportação" de talentos, inclusive para dar e receber treinamento. "Recrutamos muitos profissionais de países como Angola, Noruega e Estados Unidos. No geral, eles detém grande conhecimento e experiência", afirma Fabiano Kawano, responsável pela divisão de óleo e gás da empresa de recrutamento Robert Half .
Buscar gente no mercado brasileiro e na concorrência, no entanto, é inevitável. Essa demanda atrai pessoas de outros setores, como engenheiros mecânicos ou de projetos, interessadas na alta remuneração e nos bônus polpudos da indústria do petróleo. "A inflação de salários diminuiu recentemente, mas o setor de óleo e gás é um dos poucos onde ainda vemos executivos mudando de empresa com aumentos de 30% até 100%", diz Kawano.
De acordo com Ricardo Guedes, diretor da Michael Page no Rio de Janeiro, gerentes técnicos na área de óleo e gás ganham entre R$ 15 mil e R$ 30 mil, dependendo da especialização. Os trabalhos mais comuns na área são chamados de "upstream", atividades de exploração, perfuração e produção; "downstream", transporte, distribuição e comercialização; equipamentos e construção. As formações mais comuns nesse setor são engenharia e geociências.
Quem atua nas plataformas em alto-mar (offshore) geralmente segue a escala de 14 dias embarcado e 14 dias em terra.
A movimentação no mercado de trabalho, segundo Guedes acontece paralelamente à Petrobras, já que a estatal recruta por meio de concurso público, possui uma infraestrutura sólida e muitos recursos para capacitar internamente e reter as peças-chave. "Para operar, a Petrobras movimenta uma cadeia complexa, terceirizando tarefas e fazendo parcerias com fornecedores e outras companhias. Estas, assim como alguns grupos globais, são os que nos procuram", afirma. O setor representa 30% do faturamento do escritório da Michael Page.
De olho nesse mercado, a Hays, empresa global de recrutamento, acaba de inaugurar sua divisão de óleo e gás no Rio de Janeiro para abranger toda a América do Sul e estima que, dentro de um ano, a área também responda por 30% dos negócios do escritório.
"O Brasil é um excelente lugar para se estar atualmente quando se fala de óleo e gás. Atuei em mercados mais maduros e vejo no país um potencial de crescimento enorme. Além das boas perspectivas para o futuro, é importante ressaltar que há muito para ser feito desde agora, pois vários projetos já estão em andamento", afirma Matt Underhill, diretor global da Hays para a divisão de óleo e gás.
O braço nacional da Hays Oil & Gas ficará a cargo de Gustavo Costa, que comanda os negócios da empresa no Rio de Janeiro. "O recrutamento nessa área é muito exigente, pois lidamos com posições estratégicas e técnicas. O processo é um pouco mais lento e o encaixe precisa ser perfeito", diz Costa.
A empresa abriu uma linha específica para óleo e gás internacionalmente há apenas três anos e possui um banco de dados para integrar talentos de todas as suas bases - Inglaterra, Austrália, Cingapura, Canadá, Emirados Árabes Unidos e, agora, Brasil. Para Underhill, a criação de empregos no segmento não está diretamente ligada ao número de habitantes de um país, mas ao tamanho de suas reservas petrolíferas e dos investimentos que elas recebem.
Ele lembra que, 20 anos atrás, o mercado era dominado por engenheiros britânicos e americanos. Hoje, as empresas apostam mais na força de trabalho local. Mesmo assim, buscar e enviar profissionais para outros continentes é da natureza desse negócio. "Nenhum país do mundo consegue atender todas as suas necessidades apenas com talentos domésticos. Disponibilidade para trabalhar em operações internacionais é fundamental", afirma.
Na opinião dos recrutadores, a deficiência em idiomas é uma das maiores barreiras para que os brasileiros consigam preencher as vagas e evoluir na carreira. "A dificuldade é ainda maior para os profissionais com mais de 35 anos de idade. Muitos ficam estagnados no cargo ou não podem aceitar propostas externas porque não conseguem se reportar à matriz no exterior ou fazer parte de uma equipe com indivíduos de diversas culturas", diz Fabiano Kawano, da Robert Half.
A analista de recursos humanos Rita Martins concorda. Ela é responsável pelo recrutamento e seleção no Brasil da National Oilwell Varco (NOV), empresa de origem norueguesa que atende a indústria petrolífera inspecionando e fabricando equipamentos offshore e que emprega 600 funcionários no Brasil.
Atualmente, a dificuldade da companhia é preencher vagas para engenheiros mecânicos com conhecimentos em hidráulica. "Os candidatos que se encaixam no perfil não falam inglês e os que falam não têm experiência na função. Situações como essa são recorrentes", diz.
A NOV investe em treinamento interno com uma escola técnica própria, na qual traz profissionais mais experientes da matriz e de filiais de outros países para ensinar. Além disso, manda colaboradores brasileiros para se capacitarem no exterior, reforçando ainda mais a importância do domínio da língua inglesa.
Segundo Rita, fazer cursos de aperfeiçoamento fora do país é uma necessidade, mas também uma forma de valorizar e segurar os talentos. "Esse é um mercado extremamente competitivo e o assédio da concorrência é grande. É preciso ter programas bem estabelecidos de bônus, retenção e planejamento de carreira para não perder os melhores", afirma.
Gerente de interface no Brasil da multinacional holandesa SBM Offshore N.V., Rafael Torres tem experiência e sólida formação no setor, o que desperta interesse em diversas companhias. O executivo trabalhou cinco anos como terceirizado na Petrobras e migrou posteriormente para o ramo de siderurgia, onde ficou por mais dois.
Com um MBA na área de óleo e gás e outro em gerenciamento de projetos no currículo, porém, ele passou a receber diversas ofertas de empresas petrolíferas e há seis meses está na SBM. "Mesmo empregado continuam chegando propostas, mas não não é só a questão financeira que deve ser levada em conta. Tenho um objetivo, um plano de carreira, e não quero ficar pulando de emprego."
Com experiência internacional de três anos na África e tendo ocupado cargos diversos na Halliburton, Lúcio Pedroso está há 10 anos na área e também recebe convites de emprego regularmente. Hoje, responsável pelo inventário de plataformas brasileiras da multinacional americana Pride International, ele conta que determinadas funções são tão difíceis de serem preenchidas que as empresas oferecem bônus e recompensas em dinheiro para funcionários que indicarem candidatos no mercado. "As tecnologias usadas na nossa área são específicas e muita coisa só se aprende na prática", afirma.
Pedroso revela que, assim como a Pride, outras empresas de offshore estão trazendo novas plataformas para o Brasil, o que causa uma movimentação ainda maior no mercado. "São necessárias no mínimo cem pessoas para fazer cada plataforma funcionar e, de acordo com a legislação, metade da tripulação deve ser brasileira", diz.(Fonte: valor Econômico/Rafael Sigollo, de São Paulo)
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