Texto Inicial

Quarta-feira, 9 de Julho de 2008

Texto Inicial

Decidi criar este blog para tentar organizar alguns postings sobre assuntos que eu tenho compartilhado na internet, seja por meio de noticias coletadas e arquivadas, mas que todos deveriam saber, seja sobre assuntos técnicos que vejo e participo na comunidade do orkut Engenharia de petróleo, do professor da PUC-RJ Luis Rocha (quem eu não conheço pessoalmente).

É de caráter experimental, mas espero que seja bem aceito e conte com a participação de pessoas interessadas em adicionar.
Saudações rubro-negras a todos!!!
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Luciano da Costa Elias
Eng. Quimico
EQ/UFRJ 92/1
CBS 301/91

Notícias relacionadas

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

BM-S-9 (Carioca e Guará) - Prospecto Abaré Oeste

 

Nova acumulação no Pré-sal da Bacia de Santos

 

Rio de Janeiro, 14 de setembro de 2009 – PETRÓLEO BRASILEIRO S/A - PETROBRAS, comunica que comprovou a ocorrência de mais uma jazida de óleo e gás nos reservatórios do pré-sal do bloco BM-S-9, em águas ultra-profundas da Bacia de Santos.

 

A descoberta ocorreu com a perfuração do poço 4-SPS-66C (4-BRSA-723C), informalmente denominado de Abaré Oeste, localizado na área de avaliação do poço 1-SPS-50 (Carioca), a cerca de 290 km da costa do Estado de São Paulo (figura abaixo), em lâmina d'água de 2.163 metros. Esse é o quarto poço perfurado no bloco BM-S-9, todos com comprovação de existência de hidrocarbonetos.

 

O bloco BM-S-9 é composto por duas áreas de avaliação: a área do poço 1-BRSA-594-SPS (1-SPS-55), informalmente denominado de Guará e a área do poço 1-BRSA-491-SPS (1-SPS-50), informalmente denominado de Carioca.

 

A descoberta foi comprovada através de amostragem de óleo, gás natural e teor de gás carbônico por teste a cabo, em reservatórios localizados em profundidade aproximada de 5.150 m. Análises estão sendo realizadas com as amostras recuperadas para a melhor caracterização do óleo encontrado.

 

O Consórcio, formado pela Petrobras (45% - Operadora), BG Group (30%) e Repsol (25%), dará continuidade às atividades e investimentos necessários para a avaliação da jazida conforme o Plano de Avaliação aprovado pela ANP.

 

 

 

construção no Brasil de até 28 sondas

 

Estratégia para construção no Brasil de até 28 sondas de perfuração

 

Rio de Janeiro, 11 de setembro de 2009 – PETRÓLEO BRASILEIRO S/A - PETROBRAS, comunica, que a Diretoria Executiva da Companhia aprovou a estratégia para contratação de até 28 novas sondas de perfuração a serem construídas no Brasil, com conteúdo nacional crescente, para exploração em águas ultra-profundas, incluindo os campos localizados do pré-sal. A entrega dessas sondas está prevista para ocorrer entre 2013 e 2018.

          

Numa primeira fase, está prevista a contratação de um lote mínimo de 9 sondas. Desse primeiro lote, 7 unidades do tipo navio, que utilizarão projeto consolidado e de amplo domínio no mercado mundial, serão agrupadas para a construção em um único estaleiro. A contratação dessas 7 sondas possibilitará que o estaleiro vencedor da licitação realize os investimentos necessários para a adequação de sua infraestrutura, com ganho de escala.

 

As outras 2 unidades, que poderão ser tanto do tipo navio quanto plataforma semi-submersível, serão contratadas separadamente e poderão utilizar-se de novas tecnologias que incorporam conceitos ainda pioneiros na indústria mas que proporcionem grandes benefícios econômicos e operacionais para a Petrobras.

 

Adicionalmente, a Companhia irá conduzir, simultaneamente, outro processo que prevê a possibilidade de afretamento de até 4 unidades por empresa, a serem construídas no Brasil. Nessa alternativa, a contratação da construção junto aos estaleiros estaria a cargo das empresas afretadoras.

 

O início do processo para a contratação de todas as unidades está prevista para ocorrer ainda em setembro de 2009.

 

O volume das encomendas viabilizará a ampliação e adequação dos estaleiros existentes e a criação de novos e modernos estaleiros no país, implementando uma nova indústria naval nacional, em nível de competitividade com os melhores estaleiros internacionais, para o segmento da indústria offshore.

 

Devido às características dessas sondas, a sua construção no país também irá gerar um enorme incremento na indústria de bens e serviços responsável pela cadeia produtiva desses estaleiros.

 

Nesse sentido, a Petrobras estuda formas para facilitar o acesso a crédito dos fornecedores brasileiros que irão compor a cadeia produtiva da indústria naval que irá produzir as sondas de perfuração que serão contratadas.

 

Para viabilizar todo esse enorme empreendimento, que certamente irá promover o desenvolvimento econômico nacional e poderá gerar mais de 40.000 novos empregos diretos e indiretos, quando todas as encomendas estiverem colocadas, o Governo Federal irá alocar, através do Fundo Garantidor da Construção Naval, R$ 4 bilhões exclusivamente para garantia da construção dessas 28 sondas de perfuração.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Para leigos: Breve resumo das propostas do governo


Texto do Blogueiro Luciano da Costa Elias (todos os direitos reservados - pode ser copiado desde que dados os devidos créditos) (procurei ser sucinto e bem explicativo - não deixe de ler as demais postagens sobre o tema neste blog onde há uma coletânea e também no item "Notícias Relacionadas"):
 
Noções importantes para melhor compreensão:
Operadora: é a empresa que detém os direitos de exploração de um bloco. Pode estar sozinha ou associada a outras empresas no bloco concedido e não necessariamente é a empresa que detém a maior participação no bloco. A operadora é importante pois será a responsável por todo o trabalho de levantamento de dados (sísmica e modelagem geológica), contratação de sondas e de companhias de serviço (brocas, ferramentas, fluidos, perfilagem) para a perfuração dos poços.
Bloco: área licitada e concedida para uma operadora e seus parceiros explorarem em busca de "estruturas geológicas" onde seja possível encontrar acumulações de hidrocarbonetos (petróleo e/ou gás). Nas fases iniciais de exploração é obtido o levantamento sísmico (como se fosse uma ultrassonografia) da geologia do local que aliado aos modelos geológicos estudados levanta-se as hipóteses referentes a um ou outro modelo. A partir do modelo geológico se indicam os locais (propectos) onde se deve perfurar para confirmar o modelo ou não, encontrando as rochas previstas no modelo e, talvez, o hidrocarboneto esperado. Caso o bloco não se mostre interessante, a operadora devolverá o bloco com todas as informações levantadas sobre ele. Este mesmo bloco pode ser licitado novamente já com novas informações para outras empresas que imaginem que possam "enxergar" outras possibilidades no bloco através de outros modelos ou outros levantamentos sismicos. O governo e a ANP têm sido criticados por licitarem áreas com nenhum ou muito pouco conhecimento geológico (sismicas), pois entende-se que parte deste trabalho deveria ser feito para atrair interesse das empresas candidatas a operadoras.
Prospecto: é o local onde será perfurado um poço exploratório e pode confirmar a existência de hidrocarbonetos na estrutura geológica obtida por sísmica e confirmar o modelo geológico da região ou bloco. Se o prospecto confirmar a presença de hidrocarboneto, a estrutura existente pode virar um campo, mas somente após a perfuração de poços de extensão para confirmar a extensão da estrutura geológica e seu potencial de produção a partir de testes. Exemplo de prospecto: Tupi, Iara, Júpiter, Carioca etc (eles ainda não são campos - tipicamente a Petrobras dá nome de peixes a seus campos confirmados)
Campo: após a perfuração de dois ou mais poços em uma estrutura confirmando o modelo e o potencial de produção, após um teste de poço, é confirmada a presença de um campo. A extensão de um campo deve ser confirmada com a perfuração de mais poços de extensão quanto forem necessários. Caso a estrutura geológica estudada se extenda para além do limite do bloco, será necessário entrar em negociação com o concessionário do bloco vizinho para "unitizar" o campo.
Unitização: é o trabalho de avaliação do tamanho total da estrutura geológica que compreende o campo encontrado e as suas reservas de hidrocarbonetos, a área do campo em cada bloco concedido, e dividir a participação entre os concessionários. Se o bloco vizinho não tiver sido concedido ainda a outro concessionário, o bloco pertence à União e, então, poderá ser sócia (por meio da ANP ou de uma outra empresa - Petrosal??) ou licitar o bloco já unitizado (com todo o conhecimento de reservas etc, será como vender em leilão uma vaca premiada).
 
A proposta do governo para o "Novo Marco Regulatório do Pré-sal" compreende 4 propostas encaminhadas ao congresso:
1) Modelo de partilha da produção para as áreas do Pré-Sal e áreas estratégicas (mantendo o regime de concessão em vigor para as anteriormente licitadas): nesta proposta o governo se propõe a "controlar" a produção do petróleo recebendo parte da produção. O grande problema do sistema de partilha é que o governo tem que montar uma estrutura para armazenar, transportar, vender, processar etc o petróleo que ele recebe como pagamento por ser sócio. Muitos países grandes produtores adotam esse regime, no entanto nenhum deles é desenvolvido, não servindo de bom exemplo ou de bom argumento a favor deste regime. (NOTA DO BLOGUEIRO: Como sabemos, a ineficiência do governo atrasará a captação de recursos e exigirá a criação de estruturas governamentais com caráter técnico - a chance de dar errado é muito grande, porque o que o governo sabe fazer é cobrar impostos, não sabe produzir.)
2) Criação da Petrosal: empresa governamental responsável por gerir os recursos advindos dos blocos de pré-sal, bem como unitização de blocos não licitados, venda e processamento de petróleo e contratação de empresas para os serviços referentes aos blocos por ela controlados. (NOTA DO BLOGUEIRO: Como sabemos, será usada, tal qual qualquer estatal brasileira, como cabide de emprego para filhos, netos, familiares, cabos eleitorais etc de deputados, senadores e ministros.)
3) Petrobras como operadora obrigatória de todas essas áreas e com participação mínima de 30%: como detentor de ações da Petrobras acho bom, como cidadão acho ruim, pois é um fator limitante à concorrência entre as empresas e deverá reduzir a velocidade com que seremos capazes de produzir este petróleo e disponibilizá-lo para processamento ou venda na superfície. Como sabemos, petróleo bom é aquele já vendido ou processado na superfície, enquanto ele estiver no fundo do poço ele não vale nada, aliás, custará dinheiro para perfurar e produzir (investimentos). É importante dizer que a Petrobras é uma empresa que tem acionistas em diferentes países e não pertence totalmente ao governo brasileiro. Beneficiar a Petrobras é beneficiar estes acionistas estrangeiros também.
4) Capitalização da Petrobras: é necessária para que se cumpra o item 3 acima e para facilitar a unitização dos blocos ainda não licitados, além de dispor recursos para que a Petrobras possa acelerar os investimentos para demarcar os campos descobertos (pois ainda não se sabe a correta extensão de todos) e para colocar em produção. No entanto, cabe a ressalva anterior, beneficiar a petrobras é beneficiar sócios estrangeiros e investidores das ações.
 
NOTA DO BLOGUEIRO: OBSERVAÇÃO.: Será que o governo brasileiro tem dinheiro público disponível para "alavancar" a Petrobras? Se tem, por que está disponível todo este dinheiro com tantas obras de infra-estruturas necessárias para o país?
 
NOTA DO BLOGUEIRO: Como vemos. o governo demorou 2 anos - atrasando o desenvolvimento - para colocar um modelo que pode gerar ainda muita confusão no afã de ter sob controle estatal a produção e se preocupando em dividir os recursos - dividir o bolo antes de comprar a farinha - e em tentar ser bastante eleitoreiro. O modelo atual, o de concessão, é muito adequado para a realidade do Pré-sal, bastando que as próximas concessões tenham ajustados os seus valores de "royalties"  e de "participação especial" para os blocos do pré-sal. Se isso tivesse sido feito antes, teríamos já dinheiro disponível (participação especial é o quanto se paga no leilão) para os investimentos sociais que tanto alardeiam. No caso dos blocos que necessitam de unitização, quando esta fosse completada, estes blocos seriam vendidos com altos valores de "participação especial".
OBS.: "Royaties" - é a porcentagem que se paga sobre o valor da produção do petróleo. Ou seja, dinheiro. O que é melhor, receber dinheiro ou ter que se preocupar em armazenar, processar etc? O que é mais rápido para alavancar socialmente o país?

Mais sobre as propostas do governo

"Eu sinto um retorno ao monopólio", diz professor

Autor(es): Sergio Lamucci
Valor Econômico - 03/09/2009
 
 
O diretor do Centro de Estudos de Petróleo da Unicamp, Osvair Trevisan, faz várias ressalvas ao modelo proposto pelo governo para a exploração do petróleo da camada pré-sal, da troca do sistema de concessão pelo de partilha à definição da Petrobras como única operadora nos novos campos a serem licitados. "Eu sinto um retorno ao monopólio, e eu vejo os monopólios com restrição", afirma Trevisan, para quem o modelo escolhido pode inibir a participação no pré-sal de empresas petrolíferas estrangeiras. A questão é que essas companhias têm grande interesse em participar da operação, e não apenas de atuar no financiamento dos projetos.
Trevisan não vê motivos para a mudança do sistema de concessão para o de partilha. Para ele, o argumento de que a alteração ocorre para aumentar a transferência de renda para a União "não faz muito sentido". Pelo modelo de concessão, é possível fazer isso, bastando especificar um percentual maior da participação governamental no momento da licitação, diz Trevisan. Segundo ele, se hoje a União fica com algo entre 50% e 55%, poderia passar a abocanhar cerca de 70% nos campos a serem licitados do pré-sal, se eles tiverem realmente o potencial que hoje se cogita.
O professor da Unicamp lembra ainda que os países que adotam o sistema de partilha não são exatamente exemplos de democracia e de instituições fortes, como Arábia Saudita, Rússia, Venezuela, Nigéria e Catar, enquanto o modelo de concessão é praticado por países como EUA, Canadá, Reino Unido, Noruega e Holanda. "É um sistema mais transparente, em que as licitações são públicas", diz ele, para quem o modelo de concessão está funcionando bem no Brasil, com transparência, qualidade que pode faltar no sistema de partilha.
A definição da Petrobras como única operadora dos novos campos do pré-sal também desagrada Trevisan, que sente um cheiro de retorno ao monopólio no ar. Pelo novo modelo, a empresa vai comandar a cadeia de exploração e produção do petróleo no pré-sal, acredita ele. Para Trevisan, o Brasil já passou da fase em que um monopólio poderia se justificar, já que tem uma economia dinâmica e um parque industrial forte. "O monopólio não faz bem para a nação e nem para a Petrobras."
O professor da Unicamp diz que a concentração excessiva de funções nas mãos da Petrobras pode levar a uma participação mais tímida das empresas petrolíferas estrangeiras na exploração do pré-sal. "Acho que o modelo não chega a afugentá-las, mas pode inibi-las, porque elas gostam de fazer a operação em si, e não de atuar como financiadoras do projeto."
Como o investimento no pré-sal deverá exigir um volume elevado de recursos, é um mau negócio para o país se as grandes empresas do setor não tiverem uma participação mais significativa no empreendimento, avalia Trevisan. "É um dinheiro que o país não pode desprezar, pois será necessário muito capital para fazer a exploração." Como operadora única, a Petrobras vai precisar de um volume extremamente elevado de recursos. Para ele, hoje não é possível dizer se a capitalização da empresa, no valor equivalente a até 5 bilhões de barris de petróleo, que pode chegar a estimados US$ 50 bilhões, será suficiente para a empresa dar conta das tarefas que o o novo modelo lhe reserva.
Trevisan também faz críticas à forma de capitalização escolhida pelo governo. "O pessoal esquece que a Petrobras é uma empresa de capital misto", diz ele, observando que grande parte do capital da companhia é privado. "Haverá uma transferência de bens da nação [os 5 bilhões de barris de petróleo] para uma companhia." Dependendo dos termos da transferência, ela pode beneficiar as pessoas que detêm o capital da empresa, em detrimento de quem não tem nada. Outro problema, para Trevisan, é como se chega ao preço do barril para essa operação. Se o pré-sal tiver um potencial de fato muito grande, uma capitalização considerando um barril a US$ 10 ocorreria a um preço baixo, diz ele.
Apesar dessa ressalva, Trevisan não tem a mesma certeza dos integrantes do governo quanto ao potencial das reservas do pré-sal. "Eu gostaria que não houvesse nenhum risco, mas eles existem. Já houve perfurações de poços secos. Não dá para falar como se as coisas fossem certas e seguras." Por fim, o professor da Unicamp diz ainda que não ficou claro para ele qual será o papel da nova estatal a ser criada, a Petro-sal.
Em meio a tantas críticas, Trevisan diz que gostou da ideia da criação do Fundo Social, que vai receber os recursos do pré-sal e ser usado para atividades como o combate à pobreza e o desenvolvimento da educação. "A intenção é boa, de fazer uma reserva para as gerações futuras."

NOTA DO BLOGUEIRO: Agradeço ao colega Marlon Duque por enviar o link desta opinião do professor.

 

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

As empresas que ajudaram a eleger José Sarney


As empresas que ajudaram a eleger José Sarney

Revista EXAME
Cientistas políticos dizem que as empresas que financiam políticos envolvidos em escândalos ajudam a perpetuar a corrupção; veja quem financiou senador
Agência Brasil
O senador José Sarney
 
Por Giseli Cabrini | 03.09.2009 | 10h01

Não é à toa que José Sarney (PMDB-AP) está incrustado no centro do poder há mais de cinco décadas. Apesar de uma pesquisa Datafolha ter mostrado que 74% dos brasileiros defendem que ele deixe o comando do Senado, todos os 11 processos favoráveis a seu afastamento foram arquivados pelo Conselho de Ética. O senador soube construir uma rede de proteção que inclui amigos e apadrinhados espalhados pela máquina pública, políticos que lhe devem favores e até mesmo o presidente Lula - interessado no apoio do PMDB à candidatura de Dilma Rousseff na eleição de 2010. A oposição tentou reverter a decisão no Supremo Tribunal Federal (STF), mas a Corte também negou os recursos. Assim, só novas denúncias contra Sarney poderão extirpá-lo do cargo.

 O que poderia mudar a partir de 2010 é que os partidários de Sarney tenham mais dificuldade para levantar recursos para financiar suas campanhas. Empresas que ajudam políticos corruptos ou envolvidos em escândalos incentivam a perpetuação da corrupção no Brasil, segundo avaliação de cientistas políticos ouvidos pelo Portal EXAME. À medida que a democracia brasileira amadureça, essas empresas poderiam dar um "cartão vermelho" nesses candidatos, deixando de financiar suas campanhas. "As empresas que fazem doações a políticos tentam desvincular essa prática da defesa de interesses particulares e da troca de benefícios. Só que isso ocorre. No Brasil, ninguém faz doações só por civismo. É algo que tem caráter de negócio mesmo", afirma o professor titular da Universidade de São Paulo (USP) e consultor político, Gaudêncio Torquato.

 Em 2006, José Sarney conseguiu levantar um total de 1,698 milhão de reais para financiar sua campanha - incluindo recursos de empresas e do Comitê Financeiro do PMDB. O grupo de doadores privados inclui a Alusa Engenharia Ltda, a Caemi Mineração e Metalurgia S/A (comprada pela Vale em 2003), a CSN, a Emport Empresa Marítima Portuária Ltda e a Gusa Nordeste S/A. Juntas, elas doaram 560.000 reais a Sarney. O professor da Universidade de Brasília, Lúcio Rennó, diz que essas empresas não podem ser responsabilizadas pelo comportamento do candidato que apoiaram até porque, em 2006, ele ainda "era visto como um político sênior em defesa da governabilidade". Rennó também lembra que não há crime nenhum em fazer doações a candidatos e declará-las à Justiça eleitoral. No entanto, se essas empresas voltarem a financiar Sarney de alguma forma no futuro, estarão assumindo um desvio ético. (Continua)

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Por Giseli Cabrini | 03.09.2009 | 10h01

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O Portal EXAME procurou as cinco empresas que financiaram a campanha de Sarney e apresentou uma lista com três perguntas: 1) Por que fizeram as doações?; 2) A empresa se arrepende disso; e 3) Faria novas doações a Sarney em campanhas futuras? Todas as empresas procuradas disseram que não iriam se manifestar ou não responderam diretamente as questões. Abaixo o Portal EXAME publica a lista de doadores e os valores repassados a Sarney na campanha de 2006:

 

Caemi Mineração e Metalurgia S/A: A empresa doou 400.000 reais a Sarney em agosto de 2006. Em 2003, a mineradora foi comprada pela Vale da japonesa Mitsui por 426,4 milhões de dólares. Com sede no Rio de Janeiro, a Caemi é a quarta maior do mundo em minério de ferro e também produz caulim - um insumo utilizado para revestimento de papéis. Além disso, indiretamente, por meio da MBR, a Caemi possui participação na MRS Logística, uma grande empresa de ferrovias. Detém também participações na MSL Minerais S. A., produtora de bauxita refratária, e chegou ainda a ter participação na estrutura societária da Quebec Cartier Mining Company (QCM), produtora canadense de minério de ferro e pelotas.

 

Alusa Engenharia Ltda: Doou a Sarney 50.000 reais em setembro de 2006. É uma empresa brasileira de engenharia, especializada em construção e montagem de sistemas de energia e telecomunicações. Com a incorporação da Cavan em 1988, tornou-se a maior indústria de produtos de concreto pré-fabricado para os setores de energia e transportes. A partir de 1994, passou a operar redes de banda larga para distribuição de sinais de TV por assinatura, internet em alta velocidade e serviços agregados de transmissão de dados e imagem. Nas concessões da área de energia, o grupo focou os negócios na operação de linhas de transmissão de alta tensão, vencendo licitações e leilões público e, criando as novas empresas transmissoras de energia por meio do controle integral ou em sociedade com outras organizações do setor. O grupo tem participações no exterior e adquiriu, via sistema de concessão e com sócios brasileiros, o direito de construir e operar uma linha de transmissão no Chile. Diversificando sua atuação na área de energia, o grupo planeja investir em geração de energia por meio de leilões públicos para a construção e operação de usinas hidrelétricas. (Continua)

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(3 de 3)

 

Gusa Nordeste: Em agosto de 2006, doou 50.000 reais a Sarney. Surgiu em 1990 quando o Grupo Ferroeste Industrial adquiriu um projeto da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) que previa a instalação de uma siderúrgica em Açailândia (MA). As operações foram iniciadas em 1993. Com capacidade para produzir 360 mil toneladas/ano, a unidade dedica-se, exclusivamente, à exportação atendendo principalmente os mercados norte-americano e asiático. Recentemente, a Gusa Nordeste lançou a pedra fundamental da primeira unidade produtora de aço do Maranhão. Apenas na primeira fase do projeto, vão ser investidos 300 milhões de reais. Parte dos recursos será financiada via Banco do Nordeste. O projeto da etapa inicial da Aciaria da Gusa Nordeste S/A prevê a produção de 500 mil toneladas/ano de tarugo de aço, um semiacabado utilizado como matéria-prima para a laminação de aços longos.

 

Emport Empresa Marítima Portuária Ltda: Doou 20.000 reais em agosto de 2006. É uma das empresas do Grupo Brasbunker. Fundada em 2000 para o transporte de água potável, a empresa alterou o foco. A Emport atualmente presta serviços à coligada Hidroclean operando embarcações dedicadas ao monitoramento ambiental, resposta a emergências e apoio a navios de coleta de dados sísmicos.